Novo Nordisk e Eli Lilly perdem meio trilhão de dólares na guerra dos remédios para emagrecer

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As duas líderes globais no mercado de medicamentos para obesidade vivem um momento de forte turbulência. Em julho, a dinamarquesa Novo Nordisk, criadora do Ozempic, perdeu 25% de seu valor de mercado em apenas um dia depois de cortar projeções de vendas e lucro. Poucos dias depois, a americana Eli Lilly sofreu queda de 14% em suas ações — sua maior perda diária em 25 anos.

De acordo com reportagem da revista The Economist, desde o auge, há pouco mais de um ano, as duas companhias já viram seu valor combinado encolher em cerca de US$ 500 bilhões, o equivalente a 35%. A Novo Nordisk, mais atingida, também passou por troca de comando: seu novo CEO assumiu no mês passado.

O baque reflete, em parte, a desaceleração nas vendas nos Estados Unidos, maior mercado de saúde do mundo. O Ozempic, aprovado em 2017 para diabetes, e o Wegovy, lançado em 2021 para obesidade, perderam espaço quando a Eli Lilly introduziu os concorrentes Mounjaro e Zepbound.

Já a própria Eli Lilly viu seu otimismo arrefecer após resultados clínicos abaixo do esperado de uma pílula experimental.

Concorrência aumenta

Além da rivalidade direta, a Novo Nordisk e a Eli Lilly enfrentam novos competidores. A escassez de oferta nos últimos anos abriu espaço para farmácias de manipulação nos Estados Unidos, que chegam a responder por 30% das prescrições de remédios para obesidade, muitas vezes importando a semaglutida da China a preços menores.

Grandes farmacêuticas também entraram no jogo. Em setembro, a Pfizer anunciou a compra da biotech Metsera por US$ 7,3 bilhões, enquanto a suíça Roche avançou em testes clínicos e firmou parceria de US$ 5,3 bilhões com a dinamarquesa Zealand. Já a chinesa Innovent obteve aprovação local para seu próprio injetável de GLP-1.

Novos investimentos

Apesar disso, as pioneiras contam com vantagens. A Novo Nordisk investiu mais de US$ 28 bilhões em expansão de capacidade nos últimos quatro anos, incluindo a aquisição da americana Catalent por US$ 16,5 bilhões. A operação reforça a produção dentro dos Estados Unidos, em um momento em que o presidente Donald Trump prepara tarifas sobre medicamentos importados.

A Eli Lilly também gastou US$ 21 bilhões no período, ainda que nem todo o capital tenha sido investido na área de medicamentos para obesidade.

Esses aportes devem ajudar a reduzir gargalos de produção e a enfraquecer o espaço das farmácias de manipulação, alvo de mais de 130 ações judiciais da Novo, das quais 44 já foram vencidas, de acordo com um levantamento da corretora Bernstein.

Outra aposta é a inovação. Em setembro, a Novo Nordisk divulgou que sua versão em comprimido do Wegovy mostrou eficácia similar à da injeção. A Eli Lilly também desenvolve uma pílula própria. Além disso, novas moléculas como o CagriSema, combinação de cagrilintida e semaglutida, e o experimental retatrutide, da Lilly, estão em fases avançadas de desenvolvimento.

Segundo The Economist, esses avanços indicam que os dois gigantes devem manter o protagonismo no setor pelo menos até 2030, quando o mercado global de medicamentos para obesidade pode movimentar cerca de US$ 100 bilhões por ano. Depois disso, a disputa deve se intensificar ainda mais.

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